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segunda-feira, 5 de abril de 2021

Quando os sinos dobram por nós

 Por Everaldo Soares




Havia naquele dia algo de errado no mundo

Notei uma atmosfera de medo

Ouvi passos atrás de mim

E era a morte caminhando silenciosamente

Sob uma luz dourada que reluzia de algum lugar

Das janelas de algum prédio que eu não podia alcançar,

Dos corredores das enfermarias

Ouvi sua voz que dizia:

A morte é fluxo... a vida é mobilidade

A morte está para a vida assim como a

Correnteza na tempestade.

Pensei ainda que era melhor viver,

Enquanto um manto de cicatriz cobria a Terra.

E eram as feridas dos que partiram, 

E o pranto dos que ficaram.

Não diga nada - disse a morte - observe.

Há uma eternidade clara como o dia e escura como a noite,

Girando para baixo e para cima

Para cima e para baixo 

E que não se prende nem no presente nem no futuro.

Ninguém sabe dizer onde começa ou termina,

È a impermanência da vida... a morte.

Eu não disse nada, senti um medo terrível,

Ouvi depois um longo toque de recolher

Sobre a Terra,

O mundo havia se tornado um lugar perigoso.

Ninguém escapou do pesadelo da morte naquele dia,

Cada manhã descia com a mesma agonia da manhã 

Que antecedia.

As pessoas desesperadas fugiram no 

Cavalo de batalha de suas crenças,

Compreendi que os pesadelos não eram

Nem a metade do medo do mundo real - continuei observando.

A morte é fluxo... a vida é mobilidade - continuou a morte -

A banalidade de uma geração descende da

Banalidade de outra geração.

Muitos vivem como zumbis, se movem, respiram, mas não 

Tem humanidade,

Nem indagam sobre o sentido da vida - dizia ela.

A impensada capacidade de pensar

Levou muitos a acreditar que tudo o que reluz é ouro,

Construindo Templos reluzentes, para preencher o Vazio da crise existencial.

Criaram religiões

Inventaram doutrinas

Até perderem-se no pântano escuro de sua própria estupidez.

A voz cessou por um instante, e eu compreendi que 

Cada criatura é em si mesmo o seu próprio Templo e

Sacerdócio, juiz e sentenciado.

Compreendi o quanto os homens são como cães,

Presos na coleira de seu próprio ego.

Vem outros homens e atacam sua integridade,

Roubam os seus bens e tiram sua

Liberdade, e eles não fazem nada

Porque os cães esquecem facilmente a

Arrogância de seus donos. Eu estava perplexo.

Uma coisa atraiu minha atenção;

Uma aura de luz irradiou por toda a terra, e

Eram as orações daqueles que se curvaram respeitosamente

Diante do amor ao próximo.

A esperança tem o escudo radiante da fé - Disse me a morte -

È um território místico, uma pátria sem bandeira, 

Um navio fantasma com vozes que jamais serão 

Ouvidas por aqueles que não a detém.

Porque toda a esperança é revelada na vida,

Assim como toda a vida é revelada na morte

Porque toda morte é fluxo.

A luz dourada que reluzia no fim do túnel

Me convidou a entrar .Em algum lugar repicava um sino,

E uma voz  bem calma chamava por mim...

Então compreendi tudo.




everaldo.uni@gmail.com